Coronavírus x H1N1: por que não dá para comparar as duas pandemias?

Já se passaram mais de 10 anos desde a última pandemia, a do H1N1, mas já estamos presenciando uma nova, como classificou a OMS (Organização Mundial de Saúde). Dessa vez, quem chegou para aterrorizar o mundo é um novo coronavírus (SARS-CoV-2), responsável pela doença COVID-19 que, apesar de ser um pouco menos grave que a gripe suína, tem um contágio muito mais fácil e rápido.

A COVID-19 conta com uma taxa de mortalidade menor, e os sintomas, na maioria das vezes, são sentidos de forma leve, sendo mais pesados e letais para pessoas que estão dentro de um grupo de risco que conta com idosos (acima dos 60 anos), portadores de doenças respiratórias ou cardíacas, diabetes, ou quem está se tratando de câncer.

Lá em 2009, a H1N1 preocupou todo o mundo pela sua gravidade, mas não foi preciso estabelecer medidas tão extremas de isolamento à toda a população, ao contrário do que está acontecendo no cenário atual. A pandemia de quase 11 anos atrás, no entanto, é um pouco diferente da que estamos vivendo neste momento, seja em relação ao vírus e à doença, quanto ao impacto econômico. Para entender melhor esses dois cenários, conversamos com alguns profissionais do assunto, como a economista Nadja Heiderich, que nos contou algumas diferenças sobre essas duas pandemias e como isso impactou na saúde do país.

Imagem: Reprodução

Nadja destacou que não há nenhum tipo de imunidade contra o novo coronavírus, fazendo com que ele seja mais transmissível que o H1N1. Além disso, em 2009 já existia um medicamento comprovado no combate à gripe suína, o Tamiflu. “No caso do novo coronavírus, ainda não há medicamento comprovadamente eficaz, e a vacina deve demorar ainda mais de um ano para ser produzida em larga escala depois da comprovação do testes em humanos”, conta a economista.

Conversamos ainda com a Dra. Fabianne Carlesse, infectologista do GRAACC, que também destacou as principais diferenças entre as doenças. “O poder de transmissibilidade do vírus H1N1 é menor que o da COVID-19. Um paciente com H1N1 infecta 1,5 a 2 outros, enquanto a COVID-19 pode infectar até 3,5 pessoas por paciente. Fora isso, temos a gravidade dos casos e o acometimento de pessoas mais velhas com COVID-19, o que sobrecarrega os sistemas de saúde; por isso as medidas de isolamento são tão necessárias atualmente”, explica.

Quando houve a pandemia do H1N1, o Dr. João Prats, infectologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, cita um exemplo prático ao Canaltech, dizendo que somente uma máscara era necessária para o tratamento de um paciente, porque o problema era apenas a gotícula da tosse e um espirro. Já a COVID-19 é capaz de permanecer por um longo tempo em superfícies, tendo então uma contagiosidade muito maior que a do H1N1.

Questionamos a Dra. Fabianne também sobre os sintomas de ambos os vírus. A infectologista diz que tanto o H1N1 quanto o SARS-CoV-2 causam como sintomas a síndrome gripal, composta de febre, tosse, dor de garganta e de cabeça. No entanto, ressalta que a COVID-19 pode trazer uma tosse mais seca e dificuldade respiratória mais acentuada, sendo então mais grave e, muitas vezes, necessária a internação em terapia intensiva. “A COVID-19 acomete mais pessoas idosas, com comorbidades como, principalmente, pressão alta e diabetes”, alerta.

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Sobre a busca por uma vacina para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, Dr. João diz que na época do H1N1 os fatores eram mais favoráveis a uma solução por já existir uma vacina contra a influenza, por exemplo, e conhecimentos maiores sobre a doença. Por outro lado, 10 anos depois, os esforços contra a COVID-19 estão em estágios avançados porque nunca foi tão rápida a troca de informações, assim como o mundo nunca foi tão integrado no quesito científico. “Estamos em 2020, avançamos muito em várias ciências, então o que esperamos é que seja tão rápido quanto foi para o H1N1”, diz o infectologista.

O médico diz ainda acredita em mais fatores positivos para a vacina contra a COVID-19, contando que ela pode ser ainda mais eficaz do que é a vacina do H1N1, explicando que esta não é tão potente porque as mutações do vírus influenza acabam atrapalhando na eficácia. “Se o novo coronavírus tiver menos mutações, for um vírus menos parecido com o que era o H1N1, talvez a vacina contra a COVID-19 seja mais eficiente”.

O que será da economia? O que o governo deve fazer?

Mesmo com todos os alertas vistos mundialmente sobre a gravidade do novo coronavírus, não há como não pensar nos efeitos que a COVID-19 vai trazer para a economia, a curto e longo prazo. Porém, ainda estamos no escuro. “É difícil projetar o cenário econômico, uma vez que, devido ao desconhecimento quanto ao comportamento deste vírus, não se saiba ao certo quanto tempo devemos ficar em quarentena ou isolamento. As chances de entrarmos em recessão são grandes, devido à paralisação no consumo e na produção. Entretanto, o Governo Federal vem adotando medidas para minimizar os impactos recessivos desta pandemia”, conta a economista.

Nadja diz ainda que a situação fiscal do Brasil é delicada e que ainda existem reformas estruturais pendentes. “Se as expectativas se voltarem para a incapacidade do governo cumprir com suas obrigações a longo prazo, o cenário pode se deteriorar mais pela insegurança”, relata a economista, dizendo que é preciso ficar claro que as despesas adicionais são uma solução temporária e que haverá espaço fiscal depois que a crise chegar ao fim.

A profissional diz ainda que o governo, com a decretação de calamidade pública, pode fazer a solicitação ao Congresso para a aprovação de créditos extraordinários que financiariam a expansão dos gastos públicos, sem que a regra de tetos dos gastos fosse alterada. Nadja aponta uma possível esperança, dizendo que, após a pandemia, o Brasil possa se recuperar de forma mais veloz que os países desenvolvidos.

A economista ressalta ainda que a questão logística é importante e que os equipamentos de saúde precisam chegar ao seu destino com agilidade, assim como os alimentos. “Não podemos ter crise de abastecimento, pois agravaria todo o cenário”, alerta.

Dr. João Prats também diz acreditar que é preciso de uma melhor organização na questão do isolamento total para que os fatores econômicos e sociais não sejam prejudicados, citando que estudos sobre o contágio não chegam a mostrar esse problema. “É uma medida que funciona. Mas como, por quanto tempo, e quais são os impactos econômicos-sociais são fatores mais difíceis para se formar uma opinião. [O isolamento] É muito complexo, precisa ser usado de maneira criteriosa, de acordo com a situação de cada região no país”, finaliza.

Fonte: Canaltech

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